Laércio Baptista da Silva formou-se em contabilidade e atuou como contador por muitos anos. Na década de 1970, ingresou como assistente de professor no Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul (atual USCS). Na instituição foi professor, diretor e reitor. |
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Depoimento de LAÉRCIO BAPTISTA DA SILVA, 62 anos.
Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 07 de julho de 2005.
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC
Entrevistadores: Vilma Lemos, Priscila F. Perazzo e Robson Conceição.
Transcritores: Meyri Pincerato, Marisa Pincerato e Márcio Pincerato
Pergunta: Por favor, comece falando a data e o local de seu nascimento. Fale também um pouco da sua família e infância.
Resposta:
Nasci em 4 de novembro de 1942, no município de Arapongas, norte do Paraná, num sítio em que a parteira foi a minha avó, e, por uma razão familiar, a minha mãe veio a falecer quando eu tinha menos de 2 anos e meu pai então decidiu vender aquele espaço e veio para Santo André. Então, desde 1945 eu passei a residir no ABC, fui criado no ABC. Fiquei em Santo André até 1972, quando vim para São Caetano.
Pergunta: Em que lugar de Santo André seu pai foi morar?
Resposta: Com os recursos que ele apurou na venda da propriedade, um sítio que ele estava formando, ele montou um armazém de secos e molhados no Parque das Nações, próximo à Igreja do Bonfim. Ele se estabeleceu e virou comerciante. Eu tive uma infância como filho de comerciante, um garoto que brincava na rua. Naquela época as ruas eram de terra, sem calçamento, que permitiam à criançada fazer todas aquelas brincadeiras de infância. Isso perdurou até meus 12 anos, quando meu pai solicitou que eu o auxiliasse e passei também a trabalhar no armazém dos meus 12 até os 17 anos. Meu pai, além do armazém, montou uma padaria, como todo bom português, e já no fim da carreira profissional dele já não era mais armazém e nem padaria, mas uma casa de carnes.
Pergunta: Fale um pouco sobre o local em que você viveu.
Resposta:
De 1945, quando nós chegamos aqui, até 1959, nós vivemos no Parque das Nações, na Rua Guadalupe, que é uma rua paralela à Rua Oratório, a questão de 1 km da Igreja do Bonfim. Em 1959 meu pai vendeu aquilo, nem vendeu, mas como todo empresário, sofreu um problema na vida dele, um problema de economia, o mercado mudou, no momento em que as cooperativas surgiram, em particular a Cooperativa da Rhodia, e meu pai tinha muitos clientes que eram funcionários da Rhodia. Isso deu um certo baque e ele acabou tendo problemas financeiros e acabou se desfazendo daquilo e nessa época nós mudamos para um local, que durante muitos anos tem sido a nossa chácara, que era no Parque Novo Oratório. Ali era um local que não era residencial. Posteriormente aquilo foi urbanizado. A saída financeira que meu pai teve foi ir para lá, dividiu metade da chácara em lotes, vendeu esses lotes e com isso ele quitou as dívidas dele. E como era um bairro novo, uma coisa que estava nascendo, ele montou uma casa de carnes e ali ele ficou até se aposentar. Nesse momento mudei-me para lá, com a família toda, e foi nessa fase que deixei de trabalhar com meu pai e fui trabalhar num escritório de contabilidade.
Pergunta: E por que seu pai optou por Santo André, pelo ABC?
Resposta:
Na época que meu pai veio, eu tinha uma irmã mais velha, tenho uma irmã mais velha, e ele veio para cá porque a minha avó morava em Santo André. Primeiro minha avó nos trouxe para cá, meu pai ficou lá na propriedade e quando ele vendeu, ele veio para cá. Ele começou a namorar a sobrinha da minha mãe, ou sobrinha dele, e acabou casando-se com ela. E dessa união surgiram mais três filhos, dos quais eu ainda tenho dois irmãos vivos, com a mais velha somos quatro, só um homem, porque o outro infelizmente faleceu aos 19 anos por problemas de saúde. Essa razão por que ele veio para Santo André. A razão por que eu vim para São Caetano é o IMES.
Pergunta: Como foi a sua escolarização?
Resposta:
Eu comecei a estudar numa escola particular, que hoje se chama de escola infantil. Próximo à minha casa existia uma escola infantil particular e quem queria podia colocar seus filhos lá e pagava por isso. Eu fiquei lá durante um certo tempo, mais por permanência, por brincadeira, porque eles eram tão insipientes que não dividiam as crianças por idade, então tinha crianças da minha idade, mais novas, mais velhas. Era uma convivência, na realidade. Eu tinha uma certa vergonha porque tinha um uniforme que era uma espécie de cetim, que não ficava bem no corpo, principalmente porque a camisa era pregada na calça através de botões. Existia a calça, a camisa e abotoava os botões e aquilo ficava como se fosse uma roupa de palhaço de circo. Eu tinha essa imagem na minha cabeça e toda vez que tinha de colocar aquela roupa para ir para a escola, não gostava. Posteriormente, à época já com um problema que nós temos até hoje em alguns locais no país, eram muito difíceis vagas nas escolas públicas. À época as escolas públicas eram melhores que as escolas privadas. Minha primeira série do curso primário eu fiz também numa escola particular, já numa outra escola. Para sentir como era esse drama, quando meu pai foi me matricular, não tinha a vaga. O professor precisou fazer uma carteira para que eu coubesse na sala de aula e meu pai contribuiu para que fizessem essa carteira. Da segunda série em diante eu passei a estudar num grupo do Estado, num colégio do Estado, que se chamava Carlina Caçapava de Melo, aqui em Santa Terezinha. Eu vinha diariamente do Parque das Nações até Santa Terezinha, aproximadamente trinta minutos a pé, para poder ir à escola.
Pergunta: Foi o segundo grupo?
Resposta:
Não sei se era o segundo grupo, mas era perto das Casas Populares, naquele miolo. Ali eu fiz até a quarta série. Quando terminei a quarta série tinha o famoso ginásio. Fiz a admissão ao ginásio no Clóvis Beviláqua, em Utinga, que é uma escola particular, ainda até hoje, e lá fiz da quinta até a oitava e depois o colegial. Tenho a satisfação de dizer que posteriormente, quando concluí a faculdade, voltei ao Clóvis para lecionar. Lecionei como professor durante alguns anos. Isso foi uma satisfação pessoal, porque voltei ao colégio em que eu estudei.
Pergunta: O seu colegial foi como técnico em contabilidade?
Resposta:
Sim. Dali eu prestei o vestibular. À época, estou falando de 1963, existia um único curso superior no Grande ABC, que era da Fundação Santo André, o curso de economia. Nem a Faculdade de Filosofia ainda não existia, aliás nem a Fundação ainda não existia. Ela funcionava onde hoje é o Paço Municipal de Santo André, que ainda não tinha sido construído. A Praça IV Centenário foi construída em 1964 e posteriormente eles transformaram ali. Era um local pequeno, tinha cinco salas de aula, uma secretaria, uma biblioteca e a sala dos professores e nada mais que isso.
Pergunta: Como era o exame para entrar na faculdade.
Resposta:
O exame era extremamente interessante, para comparar com hoje. Na realidade eram quatro provas, quatro disciplinas: português, matemática, geografia e história. Só que tinha uma característica que não tem hoje, era escrito e oral, e todas eliminatórias. A seqüência era, primeiro, matemática, você fazia duas provas escritas porque não tinha como fazer oral, se não tivesse média de 5, você não prosseguia. Quando ingressei havia 44 vagas, porque naquela época os aprovados tiravam as vagas, existiam 44 vagas para coisa de 350 candidatos, e sobraram 45 na prova de matemática, um além. Dali para frente, a gente começou a fazer português, para ter média, 5, depois fomos para história, média 5 e depois para geografia, e os 45 ficaram. Então, buscou-se uma autorização para que o 45º, que era um nissei, permanecesse conosco e ele permaneceu. Esses 45 concluíram o curso integralmente.
Pergunta: Que faixa de idade, classe social, quem eram os alunos?
Resposta:
Eram pessoas de classe média para baixo. Nos 45 não tinha ninguém que podia ser classificado como classe A ou B. Era classe C, C+, alguma coisa próxima a B. A esta época, nós da primeira série estudamos de graça. A partir da segunda série nós passamos a pagar, porque à época o Lauro Gomes foi ser Prefeito de Santo André e ele falou que a Faculdade de Economia ia pagar pelo curso. Houve uma revolta toda dos estudantes, o que era natural, saímos pelas ruas fazendo manifestação, enterro do Prefeito. Um fato interessante que aconteceu foi que nós marcamos uma audiência com ele, tiramos uma comissão, ele não queria mais do que 10 pessoas, e nós fomos. A Prefeitura era na famosa Casa Rosada, que era na Praça do Carmo. Entramos, ele era despachado, fumava um charuto e disse: O que vocês querem aqui, meninos? Se vocês disseram que não vão pagar, vocês vão pagar sim. Ele abriu uma folha de papel grande, uma espécie de uma planilha e disse: Está aqui, a escola de vocês custa isso e com esse dinheiro eu monto quatro grupos escolares. Para o Município é muito mais importante, faltam vagas, do que manter um curso superior. Não tenho de manter um curso superior e estamos conversados. Ele era assim, nos atendeu dessa forma. Todo mundo olhou, conversou e entendeu que realmente era isso. Aí fizemos um acordo com ele. Nós, segundo, terceiro e quarto anistas passaríamos a pagar um valor menor, um valor simbólico e os primeiro anistas, aqueles que iriam ingressar, seriam avisados que eles pagariam o valor normal. E assim foi. Eu terminei o curso pagando um valor simbólico que representava 20% do valor da mensalidade.
Pergunta: E era uma moçada mesmo?
Resposta:
Era uma moçada.
Pergunta: Com qual idade?
Resposta:
Na faixa dos 18, 19 anos. Os quarto anistas já tinham um pouco mais, mas era nessa faixa. Nessa época ainda não tinha chegado aquele momento em que a média etária era elevada. Isso aconteceu na década de 70, quando se expandiu violentamente o curso superior, e o pessoal retornou, mas nessa época eu já estava na condição de professor e não na de aluno. O curso superior dessa época era alguma coisa interessante se a gente confrontar com os dias atuais. A meninada realmente tinha um outro tipo de postura, era outra geração. O nosso diretório acadêmico, do qual posteriormente fiz parte, nós construímos uma sede própria, onde acabava a D. Pedro e começa a Ramiro Colleoni, do lado esquerdo tem um prédio pequeno, onde hoje é uma casa comercial, aquele prédio era do diretório acadêmico da Faculdade de Economia, e hoje gera um aluguel para o diretório. Uma gestão comprou o terreno, outra gestão fez a estrutura e a terceira gestão acabou.
Pergunta: E como foi naquela época? Vocês fizeram o protesto para não pagar. Então de onde veio o dinheiro? Como capitalizaram? E depois, o senhor fez faculdade num período de ditadura. Conte um pouco sobre isso.
Resposta:
Primeiro a capitalização. Na verdade, para nós que já estávamos, realmente o valor era simbólico. O que eu pagava de mensalidade corresponderia ao que eu gastava de transporte e alimentação. Eu pegava quatro ônibus para ir à faculdade, porque morava no Parque Novo Oratório, dois para ir e dois para voltar, mais o lanche que tinha de tomar. E aqueles alunos que ingressaram na verdade já sabiam que iam ter de pagar. Como a demanda era muito maior do que a oferta, o IMES veio surgir em 1968, como a segunda escola de ensino superior na região, então o pessoal pagava. Não houve grandes dificuldades, a inadimplência era baixa. O período militar já me pegou na primeira série, porque entrei em 1964, as aulas começaram no dia primeiro e no dia trinta de março nós já estávamos no período militar. Na segunda série fui fazer parte do diretório acadêmico. À época o diretório mantinha um curso, que funcionava aos sábados e domingos, que era preparatório para entrar na própria Fundação, que gerava recursos para o diretório. Essa é uma das razões pela qual se tinha a sede própria que era na Oliveira Lima, num conjunto alugado e no período de férias nós fazíamos um intensivo, todos os dias. Um dos professores que lecionavam para nós era o professor Pedro Cia, que hoje é dono do Arbos. Ele era nosso professor de história. Eu, enquanto tesoureiro do diretório, tinha a função, aos sábados e domingos, de cobrar os alunos e pagar professor. Nós alugávamos duas salas no colégio Santo André. Ali funcionava o nosso curso, que ficava próximo da escola, que ficava onde hoje é o Paço Municipal. Pelo fato de eu ser do diretório, à época fiz alguns passeios de camburão. Nunca fui preso, nada, mas eles iam nos buscar na sede do diretório para ficar fazendo perguntas, queriam informações de outros colegas. Tem um colega que hoje é professor na Fundação Getúlio Vargas, que foi diretor, Carlos Ernesto Ferreira, e por uma dessas coisas de brincadeira, o pessoal o chamava de Vermelho, mas o vermelho não era pela ideologia. Muito depois nós fomos saber por que o apelido dele era Vermelho. Ele ficou afastado algum tempo da escola, porque ele foi levado, vermelho à época se dizia de comunista, mas a história do nome é porque ele era sócio do Primeiro de Maio, e ele usava um calção de banho vermelho, por isso ele ficou com esse apelido e na escola todo mundo o chamava de Vermelho. Na realidade ele não tinha nada de ideologia. Essa foi uma fase um tanto quanto difícil, porque você não podia abrir muito a boca.
Pergunta: E havia infiltração no movimento estudantil?
Resposta:
Que nós tivéssemos percebido não. Pelo menos durante o período em que permaneci como estudante, de 1964 até 1968, eu fiz quatro anos de ciências econômicas, até 1967, e depois fiz mais um ano, o quarto ano de ciências contábeis. Na época isso era possível porque as três primeiras séries eram básicas. Eu fiquei de 1964 até 1968 e nunca percebi infiltrações. Percebia o pessoal vindo visitar, conversar com um ou outro, levava para passear de camburão e tal, porque tinham informações. Mas o foco mesmo não estava no ABC. Tivemos colegas nossos com fotos publicadas nas revistas. Houve uma manifestação, o Governador era Abreu Sodré, na Praça da Sé, e um colega nosso foi fotografado pulando o palanque com uma pedra na mão. Nós chegamos a conversar com ele dez anos depois, ele foi preso e teve alguns problemas. Então, era uma fase em que a verdade era deles e isso também depois teve influências no nosso período enquanto professor.
Pergunta: O senhor trabalhava?
Resposta:
Sim, porque como meu pai teve um problema financeiro, ele reuniu os filhos e falou que cada um ia cuidar da sua vida. Eu tinha uma irmã mais velha, a mim e uma irmã mais nova que eu, os três tinham condições de trabalhar. E também isso explica porque eu acabei enveredando pela área contábil e financeira. Isso é uma história que gosto de contar. Eu fui informado por um amigo do meu pai que o Escritório de Contabilidade Candinho, que existe em Santo André até hoje, na Rua Monte Casseros, são outros donos, porém à época era do Cândido Neda, por isso se chamava Candinho, estava precisando de alguém. Eu fui lá, garoto de 17 anos, não estava nem na faculdade, estava fazendo colegial, e me apresentei ao gerente, que se chamava Quirino, que era irmão do Cândido Neda. Na verdade eram três irmãos, o Cândido, o Quirino e o Mário. E ele me disse: O que você sabe fazer? Falei: Nada. Por que vou dar um emprego a você se você não sabe fazer nada? Contei a ele que sabia trabalhar em balcão, que meu pai tinha armazém, padaria, casa de carnes. Era isso que eu sabia fazer, mas nunca trabalhei em escritório de contabilidade e não sei o que fazer, apesar de estar estudando no colegial de contabilidade. Ele pensou e disse: Quer aprender? Durante 90 dias vou pagar o suficiente para o seu transporte e para o seu almoço. Isso à época, eu estou falando em 1963, janeiro de 1963, isso representava mil cruzeiros, em valor da época. Era suficiente para eu pagar o ônibus e o almoço, lanche. Qual era o meu trabalho? Ele me colocou para trabalhar com o Paulo, um japonês, nissei, que já tinha alguma experiência em escritório, e nós fazíamos a chamada escrituração fiscal nas empresas. O Paulo tinha um setor, e esse setor pegava a região da Rua Carijós, e ele tinha 40 a 50 clientes e ele tinha de visitar a todos, de segunda a sábado. Ele já tinha a agenda dividida e eu fui colocado para aprender com ele. Uma semana depois o Quirino perguntou ao Paulo se eu estava bem, se era inteligente. Ele falou que ia fazer um teste. Ele me colocou sentado e me deu um livro fiscal para eu escriturar, um conjunto de notas fiscais. Eu fiz e muito bem. E realmente eu tenho a facilidade de aprender. Não digo que tinha experiência, mas o fato de ter trabalhado com meu pai permitiu ver, isso sendo feito no escritório ou no próprio armazém, o fato de estar estudando, já ia para o segundo ano colegial, que me dava um pouco de conhecimento também. E nesse escritório fiz uma carreira de três anos, fiquei lá em 1963 até 1965 e quando saí de lá não tinha trabalho nenhum que acontecesse lá dentro que eu não tivesse feito. Isso porque eu era um abelhudo, um sujeito que queria aprender. Depois de uns três meses que trabalhei com o Paulo já me deram um setor para eu trabalhar, que era da minha responsabilidade. E em janeiro do ano seguinte eu ia ao escritório para entregar o trabalho e preparar o dia seguinte. Tinha um setor que era chamado de setor da contabilidade propriamente dita, onde o pessoal fazia escrituração contábil e à época todas as empresas eram obrigadas a fazer. Hoje tem a história do lucro presumido, do SIMPLES, que dispensa as pequenas empresas. Naquela época não tinha essa dispensa, então eu encostava perto da contabilidade, tinha um japonês também que comandava tudo e ele perguntava se eu sabia aquilo. Eu falava que estava aprendendo ele perguntou se eu queria ficar para ajudar, porque de janeiro até 30 de abril era o pico para fechar os balanços, por causa do Imposto de Renda, numa época que não tinha nada eletrônico. Tudo era feito, ou manuscrito ou datilograficamente, e consequentemente dava muito mais trabalho. Eu concordei e ficava toda noite e uma semana depois estava fechando o primeiro balanço, de uma mercearia. Na noite seguinte ele me deu outro, depois outro, fechei também e depois de mais uma semana ele disse ao Quirino: Precisa trazer o Laércio para dentro, porque ele está fazendo um balanço por noite. Se ele ficar aqui o dia inteiro, imagina quantos nós vamos fazer. Mas não pode porque o Laércio tem um ano de casa e o Paulo tem dez, eu tenho de trazer o Paulo, tem outros na frente dele. Naquela época era assim, a gente fazia uma carreira. Mas o Sílvio insistiu tanto que eu fosse ajudar, que fizeram um acordo comigo, que eu ficaria até 30 de abril e no princípio de maio eu voltaria para o meu setor. E assim nós fizemos e durante o dia eu acabava cinco ou seis balanços. Chegada a época que estava combinada, eu voltei para o meu setor e o Paulo foi para o meu lugar. Passaram-se mais três meses e eu voltei para dentro e o Sílvio ficou, quebrou uma regra e eu fui ensinar o Paulo, porque da parte contábil o Paulo não entendia nada. E assim eu fiz a parte contábil e quando deixei o escritório eu fazia os maiores clientes que o escritório tinha, como indústria Krause, a Fábrica de Pregos Casa Branca e mais outras tantas que tinha, que eram médias, mas eram grandes para um escritório de contabilidade. E nessa fase eu já nem mais ficava no escritório. Ia para a empresa e ficava lá uma semana, quinze dias, porque aí não era para fazer a escrituração fiscal, mas para fazer o registro contábil total.
Pergunta: Você recebia o salário?
Resposta:
Sim. Já tinha um salário. Depois dos 90 dias eu já passei a receber um salário adequado. Mas nessa fase eu também não parei no tempo. O escritório tinha outros setores e eu fazia folha de pagamento e também faturamento. Era um grupo de pessoas que tinha máquinas de datilografia, porque as empresas emitiam as notas fiscais e levavam, algumas iam uma vez por mês, levavam as notas para emitir as faturas e as duplicatas. Diferente do que se faz hoje, que é só fazer um boleto bancário e já colocam em cobrança. Antes, todos os meses você tinha a nota fiscal, a fatura e depois a duplicata da fatura. Tinha um outro setor muito interessante que era o setor de abertura e encerramento, aquele que constituía a empresa, transformava a empresa, encerrava a empresa. Tudo isso me interessava e eu queria aprender. Três anos depois, já em janeiro de 1966, não me conformava com o salário que eu ganhava. Eu fiz uma carreira muito rápida e pessoas que produziam menos do que eu e sabiam menos que eu, essas pessoas ganhavam o dobro do que eu ganhava. Eu não me conformava com isso, e isso era próprio de um jovem, tomei uma atitude que não tomaria hoje. Propus ao Quirino que queria um aumento substancial de salário, porque estava correspondendo a isso, em contrapartida do que ele me propôs no início, que ganharia o suficiente para aprender.
Pergunta: Aí o senhor tinha 19 anos?
Resposta:
Já tinha 20 anos. Estou falando de 1965. Não. Eu não estava na faculdade em 1963. Aí foi o período que veio o reajuste. O meu reajuste foi igual ao de todo mundo e proporcionalmente eu continuei ganhando 50% menos do que aqueles que estavam a mais tempo do que eu, porque eu não podia ganhar o que eles ganhavam. Eu fiquei num arrombo e escrevi uma carta de demissão. Entreguei a carta de demissão e fui embora e não voltei mais ao escritório nem para pegar o meu cheque-salário. Eu tinha um irmão que trabalhava lá, esse que faleceu, ele pegou para mim. Só retornei ao escritório muitos anos depois porque o Paulo acabou virando sócio do escritório, então, pela amizade que nós criamos, acabei voltando lá, mas isso duas décadas depois. Tenho que reconhecer que esses três anos que trabalhei no Candinho foram uma excelente escola. Falam-se hoje de coisas que a garotada não vai entender nunca, na era do computador, mas as minhas primeiras escriturações eu escrevia a mão e passava para outro livro. Era um trabalho danado. Posteriormente a gente começou a datilografar em folhas que tinham as vias carbonadas. Uma coisa interessante para essa época, os garotos que faziam tinha de copiar aquelas folhas no livro diário. Os primeiros livros eram com folhas de seda. Aquela folha era colocada em cima e depois se colocava um tecido de algodão costurado naquela forma, aquele pano era umedecido, esticado ali, se fechava o livro, colocava depois numa prensa e forçava a prensa para reproduzir. O que era interessante na época é que um garoto, que era um aprendiz, ele tinha uma tecnologia que sabia o quanto o pano tinha de estar molhado, porque se molhasse demais ia borrar e se molhasse de menos não ia reproduzir. A força que ele fazia na prensa também. Se ele forçasse muito ia borrar. O garoto aprendia aquele procedimento, aquela técnica, o momento que tem de forçar. São coisas que a garotada aprende fácil. Posteriormente esses livros foram substituídos por folhas A4, com uma diagramatura normal. As máquinas, não existiam máquinas de calcular, só máquina de somar e subtrair. As únicas máquinas que existiam eram as chamadas Facit, que era um jogo de números. Você virava para a esquerda e para a direita e fazia conta na manivela. Você ajustava. Isso se fazia também na outra máquina, que era manual. Nessa época surgiram outras. A Olivetti trouxe para o Brasil uma máquina chamada Multi Espuma, que era máquina elétrica e que levava uns dois minutos para fazer uma multiplicação, mas ela fazia sozinha. Em seguida veio a Divisuma, que era o mesmo processo. Eram coisas estrambólicas. Isso são lembranças de uma época e que eu gosto de contar para a garotada. Quando sou convidado a falar para o pessoal do Sindicato dos Bancários eu lembro a eles essa fase porque é importante. Muito depois vieram as máquinas de contabilidade, mas não era um computador. Era uma máquina que surgiu e que teve muito sucesso. Era uma máquina onde se introduzia uma folha diária e que tinha duas entradas, e a outra entrada era para se produzir uma ficha de razão. Quando se escriturava, faziam uma ficha de razão e ele produzia uma cópia para o livro diário. Essa máquina fazia os cálculos, somava, subtraía e isso já facilitava muito. Os operadores dessa máquina eram os reis do escritório, como os primeiros indivíduos que começaram a trabalhar com computador.
Pergunta: Vamos avançar um pouco para a sua profissão de professor.
Resposta:
Deixe-me fazer um link para você entender. Ao sair desse escritório fui trabalhar na Vizardo Monteiro S.A., que era uma revenda Vemag na Artur de Queirós, em Santo André, que vendia Vemag, Scania e na sua matriz, em Mogi das Cruzes, vendia também Massei Fergusson, que eram tratores. Lá eu fui trabalhar como contador. Era técnico de contabilidade e fui lá assumir o escritório, contratado pelo Mário Sérgio Duarte Garcia, um advogado, que depois foi presidente da OAB e até hoje quando nos encontramos, relembramos dessa época. Lá permaneci um ano e meio, assumindo a responsabilidade, e com uma característica, ganhava mais do que eu ganhava no escritório. Quando saí eu arrumei cinco empregos, para ter condições de analisar para onde eu ia. Depois de um ano e meio fui convidado para montar meu escritório, com o Israel, e montamos o escritório na Oliveira Lima, que na época tinha uma funerária chamada Palermo. O prédio era dele e havia um conjunto e metade do conjunto estava vazia e ele falou que podia montar o escritório lá e quando a gente começasse a ganhar dinheiro a gente ia pagar o aluguel. Nós montamos, com o Israel, meu primeiro escritório, depois desfizemos a sociedade, fiquei sozinho. Nessa fase, comecei a trabalhar na faculdade. Quando eu concluí a faculdade, o professor Fernando Conto, que faleceu no ano retrasado, me convidou para ser seu assistente, isso em 1969. Para mim aquilo foi uma surpresa, porque eu jamais me imaginava professor, mas eu tinha ido muito bem com ele, trabalhava, já tinha feito o curso técnico, então era uma disciplina que conhecia bastante e aceitei. Fui ser assistente dele na Fundação. Foi exatamente no ano que mudou, lá do Paço Municipal para o prédio em que está hoje, e aí já se tinha constituído a Fundação, criaram a Faculdade de Filosofia. Para a minha surpresa, acabei gostando da história. Eu nunca me imaginei professor, mas acabei gostando. Alguns colegas que fizeram economia comigo, posteriormente voltaram para fazer contábil e já me encontraram como assistente do Conto. No ano de 1970 ele me trouxe para o IMES. Aqui tinha o curso matutino e ele me trouxe em 1º de maio de 1970 e eu cheguei aqui no IMES. Ele me apresentou a tudo, a sala dos professores era no Prédio B, não sei o número da sala, mas naquela parte posterior, lá no canto. Eu cheguei aqui junto com o professor Conto e encontrei o professor Celso Sebastião de Souza, que era marido da Neide, que estava começando naquele dia. Tinha mais um professor que não lembro o nome agora e o professor Conto me apresentou para o professor Rubens, que foi diretor do IMES. Ele falou que eu era assistente dele, por conta e risco dele. O Rubens era bem simpático e disse: Eu tenho uma sala sem professor. Assim conheci o IMES. Eu vim para ser assistente, não tinha dado uma aula ainda, porque tinha ficado um ano como assistente e vim para cá, para essa primeira sala, quando passamos pelo corredor, à direita, onde hoje é um laboratório. Ali tinha uma sala que era do primeiro ano de administração, matutino. Aí sim, nessa fase a faixa etária dos alunos era mais elevada. Para vocês terem uma idéia, quem era aluno nessa época, quem era vestibulando, era o professor Eldipe, que à época era dono do Hospital Santo André. Era um senhor calvo, eu olhei e o reconheci, porque meu pai uma vez sofreu um acidente na D. Pedro e acabou ficando internado lá e sofreu uma cirurgia. Eu fui perguntar por que ele estava lá e ele disse que queria aprender a administrar o hospital. Eu era um garoto, que em 1970, e eu não tinha nem 28 anos, e fui dar minha primeira aula. Dá para imaginar o que eu sentia ao chegar na sala de aula, o que passava na minha cabeça?! Mas me dei bem, não tive nenhum problema. No ano seguinte, em 1971 o professor Conto tanto me deu uma disciplina na Fundação, como fiquei no IMES como professor, mas continuei ajudando o professor Conto durante muitos anos. A minha carreira docente, eu devo ao professor Fernando Conto, não só por ele ter me escolhido para ser seu assistente, me abrir os olhos para uma profissão que eu gostava, porque eu gosto, mas também porque ele me carregou pela mão. O professor Conto foi meu pai acadêmico, uma figura que ao falar eu sinto emoções, porque ao sair das aulas, nós sentávamos na sala dos professores e ele me dizia o que ele fez na aula e por que ele fez. Passava a mim a experiência dele. Você viu que eu fiz tal coisa? Por que fiz isso? Por isso, por isso e por isso. Porque ele já tinha 30 anos de magistério. E assim comecei a minha carreira no IMES e fiquei, simultaneamente, no IMES e na Fundação. Na Fundação fiquei até 1992 e só saí porque passei a ser vice-diretor aqui. Como era incompatível, pedi licença e quando se passaram dois anos, eu não pude continuar e acabei pedindo demissão e acabei ficando exclusivo do IMES.
Pergunta:
(Inaudível)
Resposta:
À época o IMES tinha ciências econômicas, administração e ciências sociais. Posteriormente é que veio comércio exterior e ciências da computação. À época a tendência era um curso que privilegiava mais na parte das ferramentas. Os alunos tinham uma faixa etária alta. Nessa época a faixa etária girava em torno de 25 anos. Muita gente retornou para fazer o ensino superior, então era comum você ver pessoas com 30, 40 anos, então a média se elevava. E eram pessoas interessadas em aprender a fazer. Isso se tornou uma característica do curso de administração. Eu iniciei lecionando contabilidade. Se eu comparar a forma como eu ensinava contabilidade naquela época e algo que eu faria hoje, faria totalmente diferente, porque é uma outra época, uma outra forma. Naquela época o pessoal discutia o que fazer na sala de aula e hoje se vê claramente que o sistema informatizado tirou todo aquele trabalho operacional e deixa a pessoa pensar um pouco mais. Na época a gente se preocupava muito com o operacional. Era uma questão de tempo e você tinha de fazer e às vezes não sobrava muito tempo para você pensar.
Pergunta: Falando dos cursos, como o de economia, eles eram voltados para o perfil da industrialização do ABC, da região?
Resposta:
Era. Para você ter uma idéia, por que acabou o curso de ciências sociais? Acabou porque ele começou a ter uma queda de demanda e o pessoal tentou adaptar o curso mais para a linha de operação, mais para empresas. Se nós avaliarmos, não vou falar de administração, porque esse é um curso voltado a empresas mesmo, mas se você pegar o curso de ciências econômicas, você vê a evolução, ele também passou por isso. Administração surgiu muito depois da economia. Economia é um curso muito mais antigo e administração surgiu no fim da década de 60. O que aconteceu? Administração tomou o lugar da economia. A economia tentou formar um profissional que estivesse na empresa, então eles começaram a concorrer. O nosso curso de economia perdeu a característica de um curso para formar efetivamente um economista, enquanto que o de administração se voltou cada vez mais para a empresa. Voltando à minha carreira, hoje eu posso dizer que se tem uma coisa que eu gosto de fazer na vida, é ter uma sala de aula. Por incrível que pareça, não estou, e sinto saudades. Confesso a vocês que sexta-feira, 1º de julho, comecei a fazer uma reflexão em inúmeros primeiros de julho que passei e me esforçava em junho para não entrar julho com nenhum trabalho atrasado, nem que tivesse de varar a noite. Esse dia era o dia final, estou de férias. Era um dia que ficava inteiro no escritório guardando papéis, ajeitando as minhas coisas, tudo que não dava para fazer durante o dia, era um dia de arrumação. Ali já estava preparando o semestre seguinte. Isso sempre me deu muita satisfação. O magistério tem essa coisa de fazer com que você se mantenha atualizado. Você tem a obrigação de fazer isso. Você está em contato com o jovem, que é uma coisa fantástica, isso te deixa jovem, você está aprendendo com eles, se atualizando na linguagem, nas formas. A gente fica com aquela sensação de que você está ensinando alguma coisa, mas você está tentando. Mas, profissionalmente é algo que tem princípio, meio e fim. Nós iniciamos o ano letivo e ao encerrarmos o ano letivo você fala: Estou com a minha missão cumprida. Dá aquela sensação de satisfação, principalmente se nós o fizermos bem feito. Em relação ao IMES, na sala de aula até costumo dizer que sempre tive prazer em participar das formaturas. Em todas as escolas em que lecionei. Tenho a satisfação de dizer que perdi a conta de quantas vezes os alunos me chamaram para ser paraninfo. Perdi a conta. Cheguei a ser, com muito orgulho, talvez seja o único caso na escola, de um professor convidado a patrono. Se você procurar, vai encontrar outros patronos, mas o cara foi depois que deixou a direção. O Sílvio foi patrono quando deixou a direção. Eu fui surpreendido com os alunos que me convidaram a ser patrono enquanto só professor. Isso realmente me deixa muito feliz e satisfeito. Também tenho orgulho de dizer que fiquei na sala de aula, por décadas, no IMES e nas outras escolas, e nunca tive sequer um problema dentro da sala de aula. Porque talvez eu tenha paciência suficiente para conviver, para me adaptar, para saber me ajustar à sala e não a sala a mim. Em 1993, já estou falando de 22 anos que estava no IMES, fui convidado a ser vice-diretor do professor Marco Antônio. Antes de ser Centro Universitário, o vice era o coordenador acadêmico, portanto eu tinha a função. Já como Centro Universitário, obra do Sílvio, me colocaram como Primeiro Reitor. Eu me orgulho porque na realidade em 1991, na gestão do professor Moacir Rodrigues, nós ousadamente tentamos fazer o projeto da universidade, que não deu e depois nasceu o projeto do Centro Universitário, que tenho a satisfação de ter ajudado. Talvez por isso tenha sido convidado para ser coordenador. Não foi diferente com a universidade. Com a universidade, os pró-reitores agarraram isso e fizeram com que a coisa acontecesse. É algo que me enche de satisfação.
Pergunta: Esse projeto de universidade é muito anterior ao processo atual?
Resposta:
Na gestão do professor Garbelotto, um dia cheguei a ele e falei que queria propor que nós fizéssemos alguns cursos extras, que na época era uma coisa que não existia no ABC. Nós começamos a fazer um curso isolado aqui e outro ali; cursos de uma semana, quinze dias. Um dia ele me chamou e disse: Vamos criar um centro. Nós criamos o Centro de Estudos e Pesquisas, CEP. Esse foi o embrião do antigo Ceapog, que depois virou a pós-graduação. Fui o primeiro a comandar isso e fui o primeiro coordenador do Ceapog. Da mesma forma, nessa época com o professor Oscar Garbelotto nós criamos um pólo de serviços. Esse não foi bem sucedido porque o pessoal não entendeu na época, mas era para prestar serviços para as empresas. O ensino superior ainda não era visto de uma forma que confiassem a coordenação. Isso eu estou falando da década de 70.
Pergunta: O senhor pode deixar uma mensagem final? (Corte na gravação)
Resposta:
Enquanto carreira acadêmica, apesar de também ser profissional, ter meu escritório, depois deixei e tornei-me consultor e sou consultor até hoje, aquilo que mais me agrada na vida é a carreira acadêmica. A convivência com os colegas, com os alunos, com os jovens, isso me dá muita satisfação. Eu só aceitei a ousadia de ir para a direção da escola porque entendia que naquele momento eu não tinha mais muito a fazer em sala de aula, mas poderia contribuir em relação à escola, enquanto dirigente. E assim o fiz, não me arrependo. Talvez, ao terminar esta gestão, eu tenha de reconhecer que chegou o momento de me aposentar, mas talvez eu não pare de lecionar. Eu me aposento e talvez vou continuar fazendo alguma coisa. Sempre disse aos meus filhos: Eu posso talvez ganhar um prêmio, mas o que não deixarei de fazer na minha vida é estar na sala de aula.
Pergunta: Retomando da parte em que o senhor chega à instituição universitária, depois dessa sua trajetória até chegamos à universidade.
Resposta:
Eu cheguei ao IMES em março de 1970 para ser simplesmente professor assistente. Eu havia sido descoberto pelo professor Conto, porque na realidade eu nunca me vi, até então, como professor. Gostei tanto da história que acabei abandonando um escritório de contabilidade que tinha, vendi, para me dedicar exclusivamente ao magistério. Ao longo do ano de 1970 eu simplesmente assisti o professor Conto e dei algumas aulas. No fim do ano o IMES começou a fazer turmas especiais, de dependentes. Existia um número significativo de dependentes na disciplina e o professor Conto sugeriu que se fizesse uma turma especial, para que nós pudéssemos reduzir o número de alunos em dependência na disciplina. Então, nesse ano eu dei aula para esse pessoal, fora do horário, aos sábados. No ano seguinte, em 1971, já comecei a lecionar para um primeiro ano. Em 1972, não tinha nem trinta anos de idade, já estava enfrentando uma turma de primeira série, onde a média etária era maior que a minha. Durante alguns anos eu lecionei essa disciplina e posteriormente passei para uma segunda disciplina, depois para uma terceira, depois para uma quarta, enfim, toda a seqüência do eixo da contabilidade, passei por todos. Na última década em que estive presente na sala de aula, na graduação, acabei me concentrando em uma disciplina, da qual gosto muito, que era a disciplina de custos e eu explicava custos de administração, e eu fazia com uma satisfação muito grande porque isso também é decorrente do fato de eu ter, naquela época, concluído o meu mestrado, e então eu, diferentemente do que fazia com a contabilidade na primeira série, nos primeiros anos em que eu lecionava, comecei a encarar que eu dava uma disciplina técnica, mas que estava falando para alunos de administração, alunos que não iriam, necessariamente, operacionalizar. Eles precisariam conhecer, mas portanto, não poderia estar enfocando da mesma forma que se enfoca num curso de ciências contábeis. Essa falta de experiência para visualizar a disciplina para diferentes públicos. Eu fazia uma brincadeira com o pessoal, os terceiro anistas, eu dizia que ia dar contabilidade de custos, que era como chamava a disciplina, e eu já sentia pelo olhar do pessoal, e perguntava quem não gostava de contabilidade e seguramente dois terços do pessoal levantava o braço, porque tinham algum trauma, porque não gostavam. Eu falava que ia fazer um desafio a eles. Para aprender a disciplina é necessário que você saibam o seguinte, ler todo mundo sabe, escrever todo mundo sabe, as quatro operações todo mundo sabe, e um pouco de força de vontade. Você não precisa ter nenhuma base contábil para aprender essa disciplina. Eu falava que ia fazer uma primeira provinha, alguma coisa de aproveitamento, no final de abril. A gente começava em março, e tínhamos 180 dias letivos. E isso acontecia. Caminhávamos e no final de abril fazíamos a primeira provinha e eu fazia questão de na aula seguinte trazer tudo corrigido, devolvia para todo mundo, colocava a solução, discutia a solução e depois eu voltava à primeira aula: aquilo que disse era verdade ou mentira? O pessoal tinha de concordar que era verdade, que quem não tinha ido bem é porque não se dedicou, porque não se dava o enfoque contábil. O medo do estudante de administração é porque no primeiro ano ele começa a aprender teoria das partículas quebradas, e ele tem de fazer aquele raciocínio contábil, e isso é uma coisa que o assusta, justamente porque ele não gosta daquilo. É possível você ensinar isso a um aluno de administração, ou a um aluno que não seja do curso de ciências contábeis, sem enfocar a metodologia, que no fundo é o que o Mariano defendeu na sua tese de doutorado, o ensino da contabilidade para não contadores.
Pergunta: Quais eram as necessidades que o estudante de administração tinha naquela época e como é hoje?
Resposta:
Nessa época, estou falando da década de 70 e 80, porque o curso de administração nasceu eu 1967, como um curso de nível superior.
Pergunta: No Brasil?
Resposta:
Sim. Não se tinha muito definido o que um administrador deveria estudar. Você tinha um currículo mínimo e você estava engessado naquele currículo mínimo, e você poderia trabalhar o conteúdo das disciplinas que correspondiam àquilo. A maioria dos alunos do IMES, em particular, trabalhavam, portanto estavam nas empresas. E isso fazia com que você tivesse alunos que se interessavam pela sua disciplina e por outra disciplina do curso de administração. No fundo, o que você estava preparando era um profissional que iria trabalhar para uma empresa. Diria que à época não se imaginava preparar um administrador para dirigir uma empresa. Não era bem esse o enfoque com que se trabalhava. Nós formávamos um sujeito generalista que sabia um pouco de cada coisa. A estrutura curricular da época envolvia a parte contábil e financeira, a parte de métodos, a parte de direito, porque as disciplinas de formação mais geral eram um pouco reduzidas. Hoje também nós falamos em generalistas, porque se dá uma ênfase maior à formação humana. Hoje a tecnologia é importante, mas não se dá a ênfase que se dava na época.
Pergunta: E falando em 1967, a instalação do IMES, a proposta da ESAN para a Prefeitura, ela vem dentro dessa vanguarda?
Resposta:
Sim. Quando a ESAN se constituiu, que foi o primeiro curso de administração em São Paulo, a que se chamava Escola Superior de Administração e Negócios, era uma coisa que soava diferente, porque você estava acostumado a ouvir falar em ciências econômicas, ciências contábeis, mas não estava acostumado a falar em administração. Se nós pularmos a dedução, nós tivemos, na realidade hoje os cursos de administração representam, se você somar entre contábeis e de administração, representam praticamente 80% do mercado, porque no fundo o aluno procura formação para o trabalho. O próprio curso de contábeis, o que aprendi no quarto ano de contábeis, em 1968, aquilo é coisa da história. Você não vê mais isso. Só para você ter uma idéia, um professor famoso no Brasil, chamado Francisco Dalla, escreveu um livro em 1980, sobre os 50 anos da contabilidade no Brasil. Você lê aquele livro e começa a entender o contexto. Ele fala de 1902, quando se formou a Escola de Comércio Álvares Penteado, e ele dizia que nós estudávamos a duplicata, número de cheque. Isso é uma coisa que você não vai nunca falar num curso, porque não faz sentido. Mas naquela época fazia sentido e era o curso do princípio do século. Na minha época também isso acontecia. Nós trabalhávamos mais na parte prática. Como nós aprendíamos, hoje o pessoal tem processamento de dados, o pessoal consegue produzir isso no computador, com uma agilidade muito grande, e tem mais tempo para poder avaliar o que foi feito. Nós comprávamos uma pasta AZ e vinha a documentação de uma empresa, desde a sua constituição, e a alteração durante três meses. Nosso trabalho era entender aquele contrato social de constituição da empresa e passar a escriturar aquela empresa a cada quinze dias, assim que o professor fazia, para em três meses simular seis. Nós fazíamos aquilo manuscritamente, e fazíamos cálculos na cabeça, porque não tinha máquina de calcular. As máquinas de calcular surgiram um pouco depois. E ali nós fazíamos um balancete, o balanço. Isso é histórico. Eu tenho a minha pasta guardada até hoje, mas aquilo tem um sentimento histórico, porque não se faz mas nada disso hoje. E isso se aplica também à própria administração. Aquilo que na minha época nós aprendíamos fazendo, e muitas vezes não sabíamos por que estávamos fazendo, a mudança da escola, da forma de ensino, da contabilidade em si, mas isso repercutiu na forma de ensino, nós deixamos de pensar só na forma de fazer para pensar porque nós estamos fazendo. Se nós analisarmos a literatura, vamos ver que os livros didáticos até então, até o final da década de 70, raramente falavam em doutrinas, em princípios contábeis. Nós vimos essa expressão só num parecer da auditoria. Na verdade era uma frase traduzida de um parecer americano. O que eram princípios contábeis? Hoje você trabalha essa teoria e o aluno vai observar a sustentação, da forma de execução. Isso se aplica muito ao pessoal da administração. O pessoal de administração entender por que se faz é o fundamental. Ele não precisa aprender a fazer, precisa aprender por que é feito.
Pergunta: O senhor contou para nós de uma greve de solidariedade. Como é?
Resposta:
Isso já aconteceu no final da década de 80. O IMES tinha nessa época o curso vespertino que era um curso que se iniciava em torno das 17:00h e logo em seguida o curso noturno. E houve uma época, um dia específico, que foi definido como uma greve de solidariedade aos docentes das escolas federais, isso em caráter nacional. Eu cheguei ao IMES e encontrei meus colegas na sala dos professores dizendo que não iam lecionar naquele dia porque eles iam se solidarizar com os colegas das universidades federais. Eu não concordei com isso e quase fui massacrado pelos meus colegas. Como você não vai se solidarizar com seus amigos? Eu não os conheço e meu compromisso é com meus alunos, portanto vou para a sala de aula e vou dar aula. Fui o único professor que deu aula naquele dia, naquele período. Os alunos inclusive tinham receio de entrar em sala de aula. Falei que eles podiam ir para a sala porque não ia acontecer nada. Subimos, aqui no Prédio B, fechamos a porta e tivemos uma aula absolutamente normal. Após o intervalo outros fizeram a mesma coisa. Então, não havia sentido. Nós não estávamos reivindicando alguma coisa para nós, alguma coisa que existia aqui que envolvesse o IMES ou os alunos, nada disso. Então eu vou deixar de atender ao aluno porque vou me solidarizar? Eu não sei por que eles estavam fazendo aquilo. Não sabia na época. Mas isso sempre foi uma postura minha. Vou contar outro fato. No último ano que estive na sala da graduação, porque depois que fui para a vice-direção da escola fiquei só no latu senso e depois fui para o mestrado e depois saí para a reitoria e tive, forçosamente, de deixar, mas eu tinha uma turma no vespertino que tinha uma moça, que era uma líder, Aparecida, que faz dois anos que eles se reuniram para comemorarem os 10 anos de formados e fiz questão de estar lá, e a turma tinha uma interação muito forte com esse pessoal. Essa turma do vespertino, essa moça comandava a sala. Essa interação, nós reforçávamos cada vez mais, eles tinham a liberdade de, quando precisavam fazer alguma coisa, fazer na minha aula, festinha de aniversário, os cinco minutos finais da aula eles faziam na minha aula, e eu tinha um acordo com eles. Naquela época eu fazia Cidade Universitária e IMES, exatamente no dia que dava aula para eles, numa terça-feira, dava terça e sexta, mas na sexta não tinha problema. E eram as duas primeiras aulas da terça e eu falava que eu não faltava. Falei que se desse o horário e se eu não estivesse era para eles aguardarem porque eu ia chegar, algum problema que tinha no trânsito. Naquela época era tão difícil quanto hoje, talvez hoje seja mais difícil ainda, sair da Cidade Universitária e vir para cá. Se vocês tiverem alguma dúvida, se eu começar a demorar muito, dirijam-se à secretaria e perguntem se eu liguei. Naquela época não existia celular. E isso no começo da década de 90. Se eu não liguei é porque eu vou chegar e se eu ligar, a própria secretária vem aqui avisar. E isso aconteceu, uma vez ou outra eu me atrasava um pouco, porque pegava a Bandeirantes entupida, uma marginal entupida. Um desses dias eu me atrasei e cheguei na sala de aula e só havia um aluno. Quebraram o acordo. Quando chegou na sexta-feira, entrei na sala e a Cida já levantou e começou: Professor, eu preciso explicar. Você não precisa explicar nada, eu falei. Qualquer explicação que você podia dar, deveria ter dado na terça-feira. Nosso acordo está rompido e daqui para frente será à minha maneira. Como será essa maneira? Simplesmente uma maneira gelada, quer dizer, não tinha mais brincadeira, não tinha mais festinha de aniversário. Passadas duas semanas eu entrei e todo mundo ficou em pé: Professor, nós queremos, coletivamente, pedir desculpas e pelo amor de Deus, não mude o seu jeito. Esse pessoal ficou ainda mais amigo. Realmente essa turma, a Cida levava a turma direitinho e eles tinham um carinho todo especial pela minha aula e eu com eles. Quando fiz aniversário fizeram uma tremenda festa em sala de aula.
Pergunta: Vamos avançar um pouco.
Resposta:
Deixem só contar um outro caso que eu gostaria de relembrar. Essa turma foi a do professor Mauro, que também foi aluno do IMES e foi meu aluno. Eles eram alunos de administração e tinha ali uma turma danada para fazer barulho e confusão. Eu dava aula para eles um dia na semana e aos sábados pela manhã. Eu dava sempre as duas últimas aulas do sábado pela manhã. Eu chegava: Pessoal, vamos parar com essa confusão. Isso aqui está parecendo escolinha da Tia Miquelina. Era uma expressão que eu usava sempre. No quarto ano, último ano deles na escola, quando chegou na última aula do ano, portanto a última aula do curso deles, eu usava um guarda-pó, e desci para o intervalo e quando subi encontrei alguns alunos pelo pátio e falei para eles irem para a aula. O que o senhor vai fazer hoje? É a última aula! Eu falei que precisava deixar uma mensagem, orientá-los em relação às provas. Eu subi e a sala era no Prédio B, no andar superior, a penúltima sala do lado esquerdo. Eu subi, a porta estava fechada e quando eu abri a porta, não tinha um aluno, tinha só crianças. A sala estava cheia de crianças, irmãos, filhos, sobrinhos, sei lá quem, uns 50 meninos de 10, 8 anos, a sala toda enfeitada, escolinha da Tia Miquelina, e não sei o quê. O que eu faço agora? Naquele momento fiquei sem ação, mas me recompus, fechei a porta, entrei e já veio uma menina trazendo um envelope dizendo por que eles não estavam presentes. Fiquei com a garotada e comecei a brincar com eles. Eles entraram depois, estavam na sala ao lado. Fizemos a festa de encerramento do ano. A secretaria inteira, outros professores foram para lá, por acharem aquilo uma coisa fantástica. E realmente foi uma coisa muito emocionante e me marcou até hoje. De vez em quando eu sento com o Mauro e começo a lembrar dessa data. Avançando um pouco no IMES, eu já disse que na época do professor Oscar nós começamos a fazer alguns cursos extracurriculares, que foram o embrião do Ceapog, o Centro de Pós-Graduação, que posteriormente virou cursos de especialização, como também falei de um pólo de serviços que não acabou vingando. À época, na gestão do professor Sílvio Minciotti, falávamos nós em tornar o IMES em uma universidade. Então, o Centro de Pós-Graduação, a revista e o Inpes, nasceram com essa visão. Nós tínhamos esse sonho de ser universidade, mas na realidade nós não tínhamos idéia do que era ser universidade. O grande exemplo está, nós montamos o Inpes e deixamos o Inpes fazer pesquisas aplicadas, projetos para empresas. Isso, na realidade é extensão, não é pesquisa. Aquela pesquisa institucional que é feita, e que coloca dados que podem gerar conhecimento, desde que trabalhados esses dados. Mas nós não tínhamos essa visão na época. A mesma coisa com a revista de administração. A revista só ficou uma revista devidamente indexada, com conselho editorial como tem de ser, nos últimos anos, porque a gente não tinha essa visão. O projeto da universidade nasceu com a intenção. Acho que era uma intenção válida. Ele colocado no papel aconteceu no início da década de 90. Nós protocolamos no Conselho Estadual de Educação, fizemos inclusive uma congregação especial para isso, para aprovar o projeto e protocolar no Conselho, mas o projeto, eu tenho de reconhecer, não era um bom projeto. Esse projeto rolou pelos arquivos e pelas gavetas do Conselho durante quatro anos, quando então ele foi retomado e o IMES implantou o projeto, pela via da autorização, que a legislação antiga permitia, a atual hoje em dia não permite isso, só pela via do reconhecimento, chegou o momento em que fomos chamados ao Conselho e eles falaram que esse projeto não vai andar. O professor Marco Antônio já estava na direção e eu na vice e nós tivemos de arquivar o projeto. Então nós acertamos com a presidência do Conselho Estadual que nós iríamos trabalhar no projeto de centro universitário, já que nós não reunimos as condições para ser uma universidade. Reivindicamos, isso eu pedi ao Presidente do Conselho, que eles poderiam adotar a mesma regra que o Conselho Nacional de Educação havia adotado, de pegar os projetos de universidades que foram arquivados, que deveriam ser arquivados devido à nova lei das universidades, e avaliá-los para ver se eles reuniam condições para se converterem em universidade ou se seriam arquivados. Diria a vocês que entre esse grupo está a Metodista. A Metodista é vinculada ao Conselho Nacional e ela tinha um projeto que estava prestes a ser analisado pelo Conselho Nacional, que à época chamava-se Conselho Federal de Educação, e veio a nova LDB e ela ficou, mas a Metodista foi credenciada. Constituiu-se uma comissão e ela foi credenciada. Então, eu solicitava ao Conselho Estadual que fizesse a mesma coisa, que avaliasse o nosso projeto, mas convertesse em centro universitário, e o Conselho não aceitou, porque alegou que o projeto estava muito ruim, até para ser um centro universitário. Então nós trabalhamos um novo projeto. Aí nós vamos nos aprofundar sobre o que é um centro universitário e passamos a trabalhar isso. Tivemos sucesso e nosso projeto foi aprovado em maio de 2000, com elogios. Eu disse que fiquei gratificado de ter trabalhado intensamente nesse projeto. Formei uma equipe e contei com a ajuda de uma consultoria externa, montamos o projeto, encaminhamos e ele foi aprovado e aí fizemos uma festa, porque uma coisa que nós almejávamos era a autonomia. Até então era tal número de vagas por curso e nós encaminhamos pedido de autorização ao Conselho Estadual e isso levava seis meses, um ano ou mais. Se você queria mudar uma disciplina de série, você tinha de pedir autorização. Você não fazia absolutamente nada sem encaminhar um projeto, uma solicitação para que eles avaliassem, o parecer dos professores você encaminhava e tinha de esperar que fosse avaliado se ele tinha condições de lecionar e você ia receber a resposta em setembro e você tinha contratado o professor em março. Quando vinha uma resposta negativa, o Conselho tinha de convalidar o que ele tinha feito. Implantamos o centro universitário, mas não esquecemos de nosso objetivo, de ser, de nos tornarmos universidade. Como nós somos credenciados como centro por cinco anos, o normal é credenciar-se por três, depois cinco, dez, dependendo das circunstâncias. Mas como nosso projeto estava tão bom, pois eles vieram aqui, conferiram que nós tínhamos condições, à época inclusive a comissão que aqui esteve com três conselheiros, rasgou um adesivo no plenário... E a partir daí a gente começou a pensar no projeto da universidade, o que nós iríamos preparar para chegar à universidade. O Conselho Estadual editou uma deliberação de quais eram essas condições, o que tinha de se apresentar, as formas como tem de se montar um projeto para que viesse a se credenciar como universidade. E nós, na época, realmente não reunimos isso. Mas aproveitamos a autonomia e expandimos, isso também fazia parte do nosso projeto, ampliamos uma série de cursos, implementamos esses cursos, foi quando o mestrado foi credenciado, lato sensu tomou outro vulto, e o nosso projeto, nossa idéia na verdade era, quando finalizasse o credenciamento, nós então iríamos solicitar a conversão para universidade. Isso poderia acontecer em 2006. Porém, no final de 2003, em novembro, avaliando a deliberação e as nossas condições, concluímos, no seio da reitoria, que nós já reuníamos as condições. Aí surgiu uma grande dúvida. Podemos solicitar o credenciamento para universidade enquanto não concluímos o período de credenciamento como centro ou existe um trâmite para isso? Numa ansiedade muito grande, marquei uma reunião com o então presidente da Câmara de Ensino Superior e fizemos uma reunião, ele, eu e mais uma série de conselheiros e expus a eles o que o IMES estava pensando. Se vocês reúnem as condições, não vejo por que não. Mas nós podemos fazer isso nesse momento? Já deviam ter feito. Vim para a escola naquele dia, isso já era dezembro, reuni os pró-reitores e disse: Ele confirmou e nós temos a possibilidade. Portanto, vamos correr com esse projeto. Por que correr? Porque tem um lado político. O Conselho se renova, todos os anos, em um terço. Esses 24 conselheiros que estão lá hoje, todos eles gostam do IMES. Portanto, se nós conseguíssemos fazer isso com esses conselheiros, seria adequado. Ninguém acreditou muito naquele momento. Nós chamamos a consultoria, nós precisamos da ajuda deles, me reuni com o presidente da consultoria e disse a ele da nossa expectativa, que gostaríamos de ter um projeto até a primeira quinzena de janeiro de 2003. Ele disse: Eu tenho um projeto de universidade pronto em 30 de março. Jamais um projeto desse não se faz com menos de 90 dias. Discutimos e conseguimos chegar num acordo e fechamos em final de fevereiro, nem 30 de março, como ele queria e nem 15 de janeiro. Trabalhamos intensamente, ninguém saiu de férias, todo mundo deu apoio. Os pró-reitores ficaram de plantão, trabalhando sábados e domingos e a equipe da CN Consultoria, do lado de lá. E no final de fevereiro nós tínhamos construído um projeto com sete volumes e protocolamos o projeto. Agora eu tenho de fazer um trabalho de lobby. Sem querer influenciar ninguém, mas tenho de fazer com que esse projeto passe. Realmente, pela credibilidade que o IMES tem no Conselho, nós fomos muito felizes. Isso encaminhou rapidamente, designaram uma relatora, que propôs uma comissão, que esteve aqui em maio passado, para a nossa felicidade, presidida pela professora Bernardete, que é uma pessoa fantástica que já admirava muito o IMES e ela realmente presidiu essa comissão, com mais duas pessoas, e o IMES recebeu o título de universidade. E nós guardamos segredo, só conhecia isso a equipe de apoio, a reitoria, o professor Marco Antônio e a consultoria. Ninguém mais conhecia o projeto. Foi a nossa intenção, porque nós não queríamos decepcionar a comunidade, como tinha ocorrido na década de 90, onde se fez uma onda danada e quando entregamos o projeto, ele foi arquivado. Dia 28 de julho, vai fazer um ano, esse projeto já tinha sido aprovado pela Câmara e nós continuamos guardando segredo. E confesso que guardei segredo inclusive do professor Marco Antônio, não falava nada, guardei para mim, só os pró-reitores sabiam, foi para o Pleno e no dia do Pleno eu estava lá, sozinho, no dia 28 de julho, feriado em São Caetano, dia que o projeto foi aprovado. Nesse dia me senti extremamente feliz, não pela aprovação somente, principalmente pela aprovação, mas pelos elogios que o IMES recebeu do professor Mauro, que é dono do Colégio Bandeirantes, que é um dos conselheiros. Ele disse que teve a felicidade de conhecer o IMES e lá é um exemplo de que uma entidade pública pode funcionar. Depois de um monte de elogios o presidente disse que tinha uma pessoa na platéia. Perguntaram por que eu fui sozinho, mas falei que São Caetano era assim. Nós guardamos o segredo até o dia 2 de agosto. Eu combinei com o Marco Antônio, naquele dia liguei para ele e disse: Marco, nós somos uma universidade. Naquela noite eu e ele comemoramos, mas guardamos o segredo para a segunda-feira, porque era uma quarta e na segunda nós íamos inaugurar o Campus II e lá nós íamos anunciar, o que efetivamente aconteceu. Isso foi motivo de orgulho, para mim em particular, porque estive à frente do processo, e diria que nós assumimos uma responsabilidade maior. A grande pergunta que se fazia para nós: E agora, somos universidade, o que isso representa? Representa mais responsabilidade. Nós temos de continuar fazendo uma boa graduação, se possível melhor, e temos de melhorar muito, muito e muito as nossas pesquisas e a nossa pós e a nossa extensão. Esse é o nosso compromisso com a comunidade e nisso nós estamos trabalhando. Nosso credenciamento foi normal, por três anos, portanto em meados de 2007 nós vamos nos submeter novamente a um novo credenciamento e diria que a responsabilidade é maior ainda.
Pergunta: Nós estamos encerrando e pediria para o senhor encerrar com essa bela história do dia 28 de julho até 2 de agosto, quando chegamos à universidade e esse nosso um ano de história como universidade a gente deixa para outro dia.
Resposta:
Acabei não falando de algo que comentamos antes. Na realidade isso, nós acabamos tendo esse sucesso porque nós temos um pessoal que veste a camisa e que se preocupa com a instituição. Diria que o grande diferencial que o IMES tem, que desde a sua fundação, e vocês estão testemunhando isso com este trabalho, sempre foi dirigido por docentes. Jamais nós tivemos na direção do IMES alguém que não fosse docente. Alguém que está na direção. Eu estou reitor e amanhã estarei de volta à sala dos professores convivendo com meus colegas. Esse é o grande diferencial, porque você já viveu a sala de aula, já viveu a sala dos professores e está lá com a responsabilidade de dirigir e fazer com que a instituição vá mais adiante do que aquilo que seus colegas fizeram.